13 janeiro 2009

Museu Municipal de S. Filipe ... a concretização de um sonho partilhado

O Município de Palmela celebrou, em 1996, um Protocolo de Geminação, Cooperação e Amizade com o Município de S. Filipe, na ilha do Fogo.
No âmbito deste acordo, nomeadamente no capítulo relativo à assistência técnica no domínio do Património Cultural e Museologia, e decorrente de pedido formalmente apresentado pela Câmara Municipal de S. Filipe, com data de 24 de Maio de 2006, a Divisão de Património Cultural (DPC) da Câmara M. de Palmela iniciou um trabalho técnico visando conhecer a História do arquipélago, da ilha do Fogo e do município de S. Filipe, de novo a dar corpo a um programa para garantir a abertura do Museu Municipal de S. Filipe, equipamento cultural há muito desejado pelos munícipes locais e cujas linhas gerais e valências foram delineadas pelo município sanfilipense.
Este post, e os slideshows que o seguem (2006-2007-2008), traçam sinteticamente o trabalho realizado entre 2006 e 2008.

Maria Teresa Rosendo, responsável pela DPC, realizou a primeira missão técnica de 24 Julho a 2 de Agosto de 2006, com os seguintes objectivos:
  • detectar e inventariar recursos materiais e imateriais patrimoniais disponíveis na ilha do Fogo e, em particular, no Município de S. Filipe;
  • trabalhar uma proposta de adaptação do antigo Sobrado de Nhô Francisquinho a museu;
  • produzir e submeter um ante-projecto de programa museológico à apreciação da Câmara Municipal de S. Filipe e à Comunidade local.

No mesmo ano, entre 9 e 19 de Outubro, decorreu a 2ª missão técnica que contou também com a participação de Teresa Sampaio, antropóloga do Museu Municipal de Palmela. Esta missão teve como objectivos:

  • detectar fundos documentais existentes no Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde (Praia) relativos à ilha do Fogo e à cidade de S. Filipe;
  • contactar com os habitantes locais e recolher de depoimentos gravados sobre a sua história de vida e/ou temáticas específicas;
  • recolher, inventariar e fichar peças;
  • realizar uma acção de formação sobre “Noções Básicas de Museografia” para jovens locais, de modo a garantir a sequente recolha de peças detectadas, com orientação técnica do Museu Mun. de Palmela;
  • definir todo o equipamento museográfico-base para o museu.

No decurso de dois anos, os técnicos envolvidos levaram a cabo trabalho de pesquisa histórico-antropológica para produção de textos, selecção de imagens e estudo de peças (que foram chegando fichadas e com fotografia ao longo de meses…), definição de meios expográficos / museográficos, definição de circuitos de visita e de sinalética adequada.

Neste projecto estiveram também envolvidos outros técnicos do município de Palmela, como o Eng.º Mário Leitão (Chefe da Divisão de Organização e Tecnologias de Informação da CMP), responsável pelo projecto de luminotecnia, o Arqtº Nuno Neves (Divisão de Planeamento Urbanístico da CMP) que concebeu/desenhou parte do suporte museográfico (mobiliário desmontável e versátil) e o Auxiliar Técnico de Museografia Hugo Ferreira. A imagem do museu - patente quer nos painéis, quer na sinalética e merchandizing - foi criada pelo designer de comunicação Paulo Hasse Paixão; as técnicas Ana Cruz e Ana Vieira da Divisão de Comunicação da C.M. Palmela asseguraram a supervisão da execução gráfica de painéis, sinalética e desdobrável. Também Hugo Silva, desta divisão, participou no projecto através da edição do documentário "Memórias de Fogo", em exposição no Museu.

Muitos amigos em Portugal, sem dependência institucional, colaboraram com ideias e trabalho neste longo processo, com muitas sugestões por muito melhor conhecimento do terreno e das pessoas do que o pessoal afecto ao Museu de Palmela. Também com ideias e sobretudo muito saber sobre a História e Cultura foguenses, contribuiram Teodoro de Macedo, Agnelo Andrade, o jornalista Jaime Rodrigues, o Prof. Fausto do Rosário, Monique Widmer (Casa da Memória), o tecelão Gabriel, Artur Pina Cardoso Jr, e todos os entrevistados e doadores de peças em S. Filipe, que nos apoiaram e acarinharam nas 2 missões em 2006 e na de 2008.

Com cedência de imagens de ilhas que não visitamos contámos com Fernanda e Michel Rôlo e com a generosa colaboração do fotógrafo e jornalista José A. Salvador; para diversos desenhos contámos ainda com a generosidade dos arquitectos Filomena & Lourenço Vicente.

Ao longo do 2º semestre de 2006 e no ano 2007, a Ana Bela Centeio e a Liliana Araújo, tendo frequentado a acção de formação em museografia, recolheram e inventariaram peças em S. Filipe, pelo que a sua dedicação foi fundamental na articulação com a equipa em Portugal.

Em Dezembro último, teve lugar a 3ª missão técnica que teve como objectivo instalar e inaugurar o novo equipamento cultural. Esta missão contou ainda com a participação do Técnico Profissional de Museografia Lúcio Rabão, da Drª Patrícia Soares - Gabinete da Presidência/Cooperação Internacional - e do Vereador do Pelouro da Cultura do município de Palmela, Dr. Adilo Costa.

Numa 1ª fase da missão, foi feito o acompanhamento da obra no que se refere a aplicação do projecto de electricidade a todo o edifício, trabalho de carpintaria, reboco e pintura, renovação de algumas canalizações, tratamento da zona dedicada às plantas endógenas e instalação de meios audiovisuais.

Na 2ª fase, procedeu-se à montagem de todo o material museográfico, segundo o guião previamente elaborado; em paralelo, foram ministradas duas formações sobre Museografia e Protocolo, respectivamente por Maria Teresa Rosendo e Patrícia Soares, responsável pelo Protocolo da C.M. de Palmela.

O Museu inaugurou no dia 13 de Dezembro, com a presença de personalidades locais, dos municípios de Jávea e Ourém e com grande adesão da população. A inauguração teve início com um espectáculo, frente à fachada principal do Museu, que contou com a participação de diversos actores, cantores, músicos e estudantes locais, que apresentaram diversos rituais tradicionais foguenses, nomeadamente o Reinado, o Canizade, bem como poesia caboverdiana e as danças Mazurca e Contradança.

O trabalho (re)começa agora...
Ao longo destes dois anos, os técnicos da Câmara Mun. de Palmela optimizaram os seus conhecimentos profissionais e espírito de missão, na concretização de um projecto há muito esperado pela comunidade sanfilipense. Foi difícil, muitas vezes, conciliar o volume de trabalho com as tarefas desempenhadas em Palmela, por escassez de tempo, e na maior parte do tempo a investigação histórico-antropológica foi feita em casa, pelo correr da noite e aos fins-de-semana, em espírito de graciosa cooperação.

Mas...Compensou!

Compensou pela experiência de trabalho no terreno, pelo conhecimento que adquirimos, que produzimos e disponibilizamos a uma população ávida do mesmo.

Compensou pelas relações que se aprofundaram entre municípios.

Compensou pela possibilidade de concretizar um sonho de S. Filipe que passou a ser também de Palmela, e pela saborosa sensação de dever cumprido e partilhado.

Estamos cientes de que o trabalho terminado a 13 de Dezembro é, agora, e apenas, o início de um longo trabalho que agora aos sanfilipenses têm pela frente, na recolha, conservação, programação e divulgação da sua Cultura e História locais, num contexto nacional e internacional, ou não fosse o contingente da diáspora uma outra grande ilha do arquipélago...

Através do museu, equipamento cultural versátil na sua capacidade de interagir com públicos diversificados - do escolar ao turístico, do infantil ao sénior, do iletrado ao académico -, mas tecnicamente complexo (pela importância patrimonial conferida às peças que guarda e tem o dever de preservar para as gerações seguintes, dado que são hoje símbolos de memória colectiva), o município de S. Filipe fez um grande investimento financeiro e tem potencialidades para articular vários parceiros numa rede cultural local. O município de Palmela manterá a disponibilidade para prestar assistência técnica a este projecto.

Saudamos todos os trabalhadores locais que, durante duas semanas de intenso trabalho, connosco partilharam a vontade de edificar o sonho mostrando-se incansáveis no seu desempenho. Deve-se, também a eles, o cumprimento desta missão.

É agora tempo de visitar o museu, partilhar opinião, comentar, construir crítica para melhorar, potencializar conhecimentos da Comunidade em torno das peças expostas, recolhar mais peças ... Como disse a Graça, formanda da 2ª acção em Museografia, "O museu nunca acaba..." e é de Todos !

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