17 maio 2009

Memórias da Emigração: no Museu de S. Filipe


Se não chove, morre-se de sede
Se chove, morre-se afogado
Sina de Cabo Verde, de Gabriel Mariano

Uma das temáticas abordada no Museu Municipal de S. Filipe é a da emigração.

O clima seco determinou, desde o início da colonização de Cabo Verde, períodos de fome; estes, associados a doenças e a pragas, foram responsáveis por exemplo pela morte de cerca de 82 mil pessoas entre 1900 e 1947. A última grande fome - Fomi 1947 - matou 30 000 pessoas.
No século XIX, os navios baleeiros norte-americanos com escala no arquipélago atraiam as populações para além-mar. As ilhas Brava e Fogo foram as maiores fornecedoras de mão-de-obra para a emigração.

Destacam-se quatro vagas migratórias na história do arquipélago:

1900 - 1920: 27 765 emigrantes - 18 629 para os E.U.América; 3 765 para a Guiné e Dakar; 1 968 para a América do Sul;

1927 - 1945: queda do número de saídas (10 120 emigrantes) e desvio da corrente migratória para Portugal (3 336), Dakar e Guiné (2 969), E.U.A. (1 408) e América do Sul (1 203). Em 1941-1942, a fome provoca na ilha do Fogo a morte de cerca de 31% da população. Vozes locais se insurgem-se contra o poder colonial, como a de Nho Abílio Macedo, Agnelo Henriques, administrador do Concelho do Fogo e seu irmão António Henriques - poder colonial fascista enviou-os para a prisão do Tarrafal e para o degredo em S. Tomé.

1946 - 1973: grande diáspora, destinada ao continente europeu, com falta de mão-de-obra para a reconstrução do pós-guerra.
Ao longo da 1ª metade do século XX, assiste-se também à emigração, forçada pelo Estado colonial, para as plantações de S. Tomé e Príncipe.

Após 1974 – o fluxo migratório destina-se sobretudo para Portugal e Espanha, constituído quer por homens quer por mulheres, e concentram-se em Portugal sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Algumas peças recolhidas na cidade - ex. mala saquedo e máquina de escrever da empresa do proprietário foguense de Ernestina -, são apresentadas no Museu, e relembram a vida de um dos proprietários da embarcação Ernestina, imortalizada na nota de 200$00 cabo-verdianos; o veleiro foi um dos principais barcos que conduziram vagas de emigrantes do Fogo para os Estados Unidos da América, após iniciar o serviço como transatlântico em 1947.
Uma entrevista a Nha Filó - filha de Henrique Mendes, proprietário foguense do Ernestina - relembra um pouco dos tempos duros da emigração forçada para S. Tomé e da busca de nova vida em terras norte-americanas.
Ernestina - oferecida por Cabo Verde aos Estados Unidos da América em 1982 - foi recentemente restaurada, aos 115 anos, em New Bedford e em 2010 poderá visitar Cabo Verde.

A emigração mantem-se como constante na vida do arquipélago e o tema constitui uma das áreas de investigação por parte deste Museu.
O turista atento que visita as ilhas - como a do Fogo - pode não compreender a existência, um pouco por todo o lado, e com diversos usos (ex. usados como vasos de flores), de inúmeros bidons: chegam com bens diversificados enviados pelos emigrantes para a família; substituiram os antigos sacos de pano.

Se pretender doar peças - passaportes antigos, sacos de transporte de bens para a família, fotografias,... - ao Museu Municipal de S. Filipe, para enriquecer o acervo relacionado com a emigração, contacte-nos através do seguinte e-mail:
museu.municipal@cvtelecom.cv

E não se esqueça: visite-nos !

1 comentário:

Unknown disse...

Só para vos avisar que nomeei o vosso sítio, de Café da Semana, com um post próprio e destaque durante uma semana, na coluna da esquerda do Café Margoso. Parabéns, coragem e um forte abraço.